Vamos desenhar… nas redes sociais

Giz, lápis, mouse, celular nas mãos. Um pouco de criatividade, conhecimento de softwares de edição de imagens, um filtro bacana que dá um belo “tapa” na foto. Já repararam como o mundo está ficando gráfico e como a máxima “uma imagem vale mais que mil palavras” vem valendo mais do que nunca?

Basta darmos uma olhada nas redes sociais. Primeiro foram os infográficos. Foi uma enxurrada de desenhos para todos os lados. Pra tudo, sobre tudo. O importante era puxar a lousa e rabiscar para que o público pudesse compreender.

Em seguida veio o Instagram. A ferramenta – até então exclusiva para iPhones e que há pouco ganhou também o Android – virou febre. Os filtros, por vezes, transformam imagens que poderiam ser comuns em pequenas obras de arte que caberiam fácil em um quadro.

O sucesso dessa rede foi tamanho que levou Mark Zuckerberg e os gestores do Facebook – hoje indiscutivelmente a maior rede social do mundo – a olharem com carinho para o Instagram até a aquisição da plataforma no início de abril desse ano pela bagatela de US$ 1 bilhão.

O Facebook já demonstrava o valor e importância que a imagem tem para sua estratégia. Sem dúvida alguma o novo modelo definido para a linha do tempo dos usuários privilegia totalmente a publicação de conteúdos em modelo de foto. A imagem de capa também reforça esse conceito e estimulou o público até mesmo a brincar com o formato.

Antes mesmo disso, entretanto, os próprios usuários e marcas se encarregaram de usar e abusar de joguetes com fotos e montagens em busca do tal engajamento. Exemplos não faltam.

Por fim, o crescimento repentino do Pinterest, que foi conquistando terreno principalmente em arte, decoração, design. E, por mais que sua evolução esteja um pouco mais estabilizada, há muita gente de olho nessa tecnologia.

É. O mundo da leitura está cada vez mais distante. Lembra aquela célebre cena do filme “Cidade de Deus”, quando o Zé Pequeno pede para procurarem o nome dele no jornal e o menino responde: “Só sei ler as figuras”.

Como é fácil ser ativista digital

Apesar de já trabalhar há algum tempo com mídias sociais, ainda tenho diversas “crises existênciais” com esse mercado. Talvez pela formação em jornalismo, o que me torna muito cético em relação a várias visões publicitárias ou pelos aspectos muitas vezes intangíveis do segmento de comunicação e relações públicas. Mas poucas coisas me incomodam tanto quanto o ativismo na web.

Os defensores vociferam por aí pela democratização da informação. Adoram usar como exemplos como as revoluções no Irã, na China. Oi? Desculpem-me, mas são situações completamente diferentes das que vivem os países com o mínimo de liberdade de expressão e acesso aos meios de comunicação digitais. Não podem – nem devem – ser usados como referência para esse tipo de discussão. Além disso, foram ferramentas usadas para mostrar ao mundo o que estava acontecendo, tamanhas as restrições e censura impostas. Mas a revolução estava nas ruas, não somente atrás de computadores.

Minha intenção não é cagar regra alguma por aqui. Ao contrário. Gosto de usar esse espaço para o debate (algo que vem minguando nos últimos tempos, é bem verdade na chamada blogosfera). Mas fazer esse tipo de comparação soa, no mínimo, ingênuo. É a mesma coisa que confrontar a estrutura administrativa e política do Brasil, com seus quase 200 milhões de habitantes e dimensões continentais a, por exemplo, Portugal, com seus 7 milhões de pessoas (menor até que a cidade de São Paulo).

Costumo dizer que o comportamento na internet nada mais é do que o reflexo do universo real, de tijolos. E você certamente já leu em uma porção de lugares que ela potencializa o que há de bom e o que há de ruim. Quer exemplos reais? Vasculhe os principais portais brasileiros e repare nas notícias mais lidas. Claro que vai encontrar muita besteira (fofocas de artistas, bundas, peladonas, e/ou algum outro tema que esteja em voga no momento). Num país no qual as escolas não contam com o mínimo de infraestrutura e hospitais com pacientes morrendo na porta por falta de atendimento, é muito “mais importante” fazer marcha pela legalização da maconha. Ah, façam-me o favor, mas é isso. É a realidade.

Enviar um tweet com uma hashtag, ficar esbravejando no Twitter, participar de “eventos” de protesto no Facebook não vão mudar a situação em nada, convenhamos. O chamado ativismo de sofá não vai mudar o mundo. Simples. Porque esses canais são ferramentas de suporte, nada mais que isso. Ajudam? Não podemos negar. Mas elas, por si só, não resolverão os problemas. As redes auxiliam na aproximação de pessoas com interesses comuns, linhas de pensamento semelhantes, mas não são elas que vão pegar panelas, exigir direitos e deveres e assim por diante. Protestar é organizar, engajar, estimular, compartilhar, integrar, ativar.

As pessoas parecem se sentir confortáveis em participar desses protestos. Até eu que sou mais bobo. Pronto, vou ali, ligo o computador, faço o “meu protestinho” e lavo minhas mãos, afinal, fiz a minha parte. O exercício da cidadania é muito mais que isso. É um movimento anterior ao uso de plataformas digitais. Deve estar presente na essência da pessoa, na formação básica, na concepção de mundo. Entendam. Não estou querendo dizer para que os protestos digitais não aconteçam. Só continuo achando que, de forma isolada, eles não vão conquistar o seu propósito.

Algumas pequenas perguntas para finalizar:

O José Sarney está fora do Congresso por causa do #forasarney?
Os protestos contra os aumentos dos salários dos parlamentares na web surtiram efeito?
Alguém do mensalão foi condenado e está fora da política?
O cinema Belas Artes, em SP, continuou funcionando apesar de todos os protestos?

Recomento, ainda, a leitura desse brilhante artigo de Eliane Brum sobre a nova geração.

Um momento para o comercial

Quem acompanha esse blog sabe que não gosto, mas vou aproveitar. Queria falar sobre a participação em dois cursos especiais que falam sobre comunicação digital. Gostaria, inclusive, de contar com sugestões de temas que podem ser abordados com o pessoal por lá. Enfim, lá vão.

O primeiro veio a partir do convite de Rodrigo Capella. É da Escola de Comunicação, do Comunique-se, e acontece a partir de 25/5, permanecendo até 14/9. O tema: “Comunicação Corporativa na Web 2.0”. Realizado em dezesseis aulas, conta com a presença de diversos profissionais do mercado e tem como meta oferecer embasamentos de planejamento, atuação e mensuração de ações digitais. Estarei por lá no dia 29/06.

O segundo acontece no próximo dia 26/05. Vou participar a convite do amigo Felipe Morais. Esse trata da construção das marcas no ambiente online, apresentando como pensá-la, estruturá-la e agir nesse contexto, entender como se relacionar com o consumidor para geração de bons resultados no ambiente digital.

Anotem aí:
1. Curso – Comunicação Corporativa na Web 2.0
Quando – de 25/05 a 14/09
Informações: Telefone: (11) 3897-0860 e cursos@comunique-se.com.br

2. Curso – Redes sociais voltadas para negócios
Quando – 25 e 26/05
Informações: (11) 3138.5200 e edexecutiva@trevisan.edu.br

Apareçam!

O conteúdo das agências

Há alguns anos tornou-se algo comum as agências de comunicação e assessoria de imprensa oferecerem serviços de produção de conteúdo para seus clientes. Afinal, boa parte das informações relevantes passam pelas mãos dos atendimentos. Mais um serviço, mais faturamento, pronto, segue o jogo.

Aí apareceram as mídias sociais. Mais um produto para as agências de comunicação. Administrar os perfis oficiais de clientes nas redes sociais exige uma grande produção de conteúdo. Além disso, temos de considerar as diversas plataformas. É vídeo, é foto, é texto, é microtexto.

O difícil, porém, é vender toda essa história para o cliente. O mercado precisa compreender melhor esse universo de comunicação que se abriu. Então vamos “evangelizar”, certo? Exato. E não é ironia nem crítica, acho que é o caminho certo mesmo.

Reparem. As agências passaram a produzir muito conteúdo proprietário. Não vou listar aqui para não parecer injusto, mas acesse o site de algumas das principais assessorias de imprensa do País. Dê uma vasculhada em seus perfis no Twitter. Você pode se surpreender. Tem muito conteúdo de qualidade e dados preciosos, especialmente sobre redes sociais.

Quer uma ajudinha?

Controle? Nem tanto…

É jabá? Talvez. Mas como a atualização aqui anda às moscas, aproveito para compartilhar um texto que escrevi para o blog especial do Grupo TV1 sobre a cobertura do Social Media Week São Paulo (siga via #smwsp).  Comentem!

Como bem disse Mário Reys, há uma grande curiosidade – e porque não receio – das empresas em relação às mídias sociais. De fato, é o tema que vem consumindo boa parte do jornalismo nas áreas de internet e publicidade. Mas talvez o que mais assuste as companhias nesse novo ambiente é a falta de controle das informações.

O marketing ou o departamento de comunicação não detêm mais poder sobre a marca. Ela pertence aos usuários. Isso já acontecia de certa maneira no mundo off, de tijolos. Com o crescimento das redes sociais, esse poder foi multiplicado. E as pessoas perceberam isso. O caso da marca de eletrodomésticos, contado por Michel Luz deixa isso muito explícito. A fragilidade das centrais de atendimento ficou totalmente exposta e essas novas formas de comunicação obrigam as companhias a repensarem seus modelos de atendimento e relacionamento com consumidores.

Nessa linha começa a ganha força o conceito de SAC 2.0. Quando o usuário se queixa na central de atendimento via 0800, por exemplo, sua crítica, seu problema ou sua insatisfação são apresentadas apenas a uma pessoa e, pior, da própria companhia. Quando essa manifestação é feita nas redes sociais aumenta sua capacidade de atingir um número enorme de pessoas. Isso quer dizer, portanto, que não adianta mais jogar a sujeira para debaixo do tapete.

Caíram os mantras corporativos de discursos vazios para práticas inexistentes. Apesar de continuarem sendo meios – enquanto o processo de comunicação se mantém na essência – ao entrar nesse universo das mídias sociais, as portas estão todas abertas. Vivemos a era da transparência, algo tão essencial quanto complexo até mesmo para as organizações mais modernas.

Além de mudança de cultura necessária, é preciso estudar e desenvolver novos processos. De nada vai adiantar transferir pura e simplesmente a metodologia de relacionamento e atendimento para esses novos canais sem que essa atitude gere alterações e correções em processos, produtos, serviços. É uma questão de ação e reação.

As conclusões? Não existem. Simplesmente pelo fato de que todos estamos em um momento de aprendizado e não sabemos quando tudo isso estará consolidado efetivamente. O negócio, então, é estudar – ou seria escutar?

Desejos profissionais para 2011

Faz um bom tempo que não passo por aqui. E realmente anda bem difícil manter esse espaço. Ainda insisto e já pensei várias vezes em matá-lo de vez. Afinal, nenhum leitor gosta de acompanhar um blog que não se presta a sua função principal.

De qualquer forma, preparei uma listinha com alguns desejos para o ano que se inicia. Tem outros vários, mas que precisariam de contextualização para serem publicados. Seguem sem nenhuma ordem específica. Apenas anotei os que surgiram na cabeça:

– Que os conceitos de métricas qualitativas se consolidem;
– Que o conteúdo relevante seja reconhecido pelas empresas e pelo público em geral;
– Que muitos profissionais de internet deixem de ludibriar seus clientes com febres de mercado;
– Que as empresas entendam que mídias sociais não são comunicação de massa;
– Que as organizações entendam o posicionamento e valor de sua marca antes de usarem as mídias sociais e compararem com uma Starbucks, por exemplo;
– Que retirem de seu vocabulário corporativo as expressões “vamos fazer um viralzinho” e “vamos criar um perfilzinho no Twitter”;
– Que os “especialistas” sejam desmascarados;
– Que blogs com excelente conteúdo ganhem ainda mais força em detrimento do besteirol espalhado por aí;
– Que o Home Office finalmente se torne uma realidade;
– Que a produção intelectual seja reconhecida e valorizada – a um preço justo, claro!
– Que o trabalho em mídias sociais seja integrado a um contexto maior de comunicação corporativa.

Um 2011 cheio de conquistas e realizações para todos nós!

 

Quando começa o trabalho com mídias/redes sociais?

Li um artigo do Webinsider e o texto acabou motivando um comentário que adaptei aqui como um post. A autora, Fernanda Fabian, explica o movimento e a força que consumidores vêm ganhando com críticas feitas nas redes sociais. Os clientes estão transformando esses canais das empresas em verdadeiros SACs e recebendo devido retorno.
Já até comentei algo sobre isso alguns posts atrás. Penso, entretanto, que o tema vai muito além de responder ou não às manifestações dos clientes e usuários de um produto ou serviço nas redes sociais.

Isso é tudo lindo, muito bacana. O problema maior não está em ativar ou não, responder ou não a essas demandas. De que adianta interagir muito bem com os clientes nas mídias sociais, ser uma marca “simpática” neste ambiente, ter boas sacadas, se não há uma efetiva melhora no produto ou serviços.

E se os processos que estão levando a esses problemas não forem alterados? Participar das redes sociais é algo que começa antes delas. É, ao menos, tentar arrumar a casa antes de dar a cara à tapa. Não adianda sair criando canais – mesmo com planejamento bacana do que se vai fazer com eles em termos de conteúdo, que tipos de respostas, analisar o público e assim por diante. Caso contrário, você só vai amplificar o problema e oferecer mais um canal (além do SAC e do e-mail) para manifestações de clientes insatisfeitos.

Um bom produto ou serviço se vende sozinho. Como bem cita a autora do texto do Webinsider, as pessoas acreditam na opinião de desconhecidos. E se a companhia oferece algo realmente de qualidade, será lembrada e recomendada de forma positiva.

Dê, então, uma olhadinha naquele relatório do SAC que você nunca deu bola. Avalie o conteúdo que vem dos e-mails que chegam via Fale Conosco do site institucional. Consulte esses sites de reclamação e a lista de críticas a seus produtos e serviços no Procon. É mesmo hora de agir e criar os perfis oficiais da empresa nas redes sociais? Com base nesse material todo, não há nada a ser feito antes de criar mais um canal?

Se os seus clientes andam reclamando por aí mundo afora – on e offline – que sua loja é suja e desorganizada, vai adiantar você criar um perfil no Twitter para responder a eles? Vai dizer o que? Não é mais fácil mandar limpar e arrumar a loja? Assim, você efetivamente resolve o problema.

 

A nova sugestão de pauta

Andei consultando alguns profissionais de comunicação – jornalistas, professores, entre outros – para que falassem um pouco sobre o processo de sugestão de pauta dentro desse novo contexto virtual. Apenas uma pergunta e liberdade para dissertar.

O primeiro a participar é Gilberto Pavoni Junior, com quem tive o prazer de trabalhar e considero um dos jornalistas mais gabaritados quando o tema é internet. Jornalista especializado em tecnologia e em tudo que gira em torno dela. Atualmente colaborador da Information Week e consultor de algumas agências e empresas. Ganhou o Prêmio Embratel de Jornalismo em 2009 e está entre os finalistas de 2010. Usa redes sociais há anos, mas já vislumbra uma distopia chegando.

A pergunta: com o avanço dos canais digitais de comunicação, o que mudou (ou deveria mudar) no modelo/conceito de sugestão de pauta?

O que mudou é que os contatos são mais fáceis e as agências criaram perfis nas redes. Só que o uso é ruim. Ainda é broadcast, ainda é comunicação de massa. Os perfis não interagem e só emitem notícias como se fossem um canal de TV. Ao criarem eventos, convidam os blogueiros mais famosos do mesmo jeito que fariam um evento com os principais veículos. Os meios aumentaram, mas a compreensão e atitude continuam as mesmas. Ou seja, mudou e não mudou nada.

Com as mídias sociais, há condições de montar uma notícia pronta ou dar novos formatos para a notícia. No primeiro caso, não há segredo. Com um release social, há condições de a PR mandar fato, fontes, contatos, fotos e material de pesquisa para o jornalista. Aí, não há segredo. Ou melhor, não há novidade. Isso já poderia ser feito pelo próprio jornalista e o release social só economiza tempo. Sem dúvida, essa economia é importante. Mas, não vejo grandes novidades aí. Talvez haja a necessidade de uma evolução num traquejo maior para incluir como fonte a network, os fãs, os virais, as trocas de interações e como a notícia foi apropriada por quem consome a notícia.

O que me chama a atenção é que poderia haver um uso do ambiente das ferramentas tecnológicas sociais para criar um novo sentido e formato para a notícia em um cenário de falta de atenção e de necessidade de jornalismo como entretenimento. Ler notícia como fazemos normalmente é OK e acho que isso ainda deva persistir porque agrada a muita gente. Porém, há quem goste de informar-se de outros modos. E isso está crescendo, especialmente entre os mais jovens. Seria muito uma PR sugerir uma pauta de notícia-game ou transmedia… ou mesmo sugerir as plataformas de mídias sociais como meio por onde se irá gerar a notícia? Ou mesmo mandar isso pronto? Dá pra pensar e noticiar o que ocorre no Foursquare? É consumo como mídia. Como vamos trabalhar isso?

A construção desse novo modelo deveria ser feito na redação. Mas, há um problema (especialmente no Brasil) de enxugamento da mão-de-obra. Não há tempo nem capacidade técnica de se fazer isso nas redações. As agências de PR podem ajudar nisso. Já vi discussões no GoogleBuzz que poderiam virar notícia. Há fatos que podem virar games (efêmeros como o da bolinha de papel no Serra ou complexos como os da produtora Persuasive Games, especializada em newsgames) . Dá pra transformar coletivas e webcasts em discussões ao vivo… etc. Qual o nosso mashup da notícia? Porque carregamos centenas de músicas no dispositivo móvel e não guardamos essas notícias em novos formatos revolucionários?

A meta (ou a métrica) para isso seria a interação, a criação de comunidades em torno da notícia e de seus agentes. O problema para tudo isso é que haveria uma transferência de poder. O jornalista perde poder, a PR perde poder, o cliente perde poder e o leitor ganha. Poderia, inclusive, criar-se um ativismo em torno da notícia que foge ao controle da estratégia de comunicação das empresas e pode se voltar contra. Outro problema, é que esses formatos revolucionários não podem substituir ao que existe, seria mais um. Mais trabalho aí. Talvez, prevendo esse nó, é que o treco não avance.

Produzir sentido num cenário de falta de atenção.

Veja também:
Exemplo de sugestão de pauta
Sugestão de pauta
Sugestão de pauta 2
Sugestão de pauta 3