O conceito do esforço zero

Por Eduardo Vasques

Como se preparar para um consumidor que busca e exige cada vez menos catracas para se relacionar com sua marca, produtos e serviços?

A tecnologia — a internet dentro disso — mudou tudo. Transformou parâmetros, conceitos, estratégias, métodos. Mas uma coisa é inegável: cada vez mais a gente quer ter menos trabalho para realizar as coisas. Qualquer tipo de coisa. É o conceito que se aproxima do chamado esforço zero. O consumidor deixa de se preocupar com atividades e tarefas — das mais complexas às mais rotineiras — porque a cada dia surge algo novo que resolva problemas pra ele.

Uma das grandes viradas de chave foi a mudança do seletor de canais da televisão para o controle remoto. E, por mais que pareça simples — especialmente para quem é jovem e está lendo este artigo — isso foi uma revolução e tanto. Afinal, as pessoas passaram a zapear, não ficavam mais presas a um canal por preguiça de levantar para trocar de emissora.

Agora, imagine o contexto: já pensou no fechamento de balanço financeiro de uma empresa de grande, médio ou até pequeno porte sem o Excel da Microsoft? Sem suas fórmulas automáticas e mágicas? Sem os diversos softwares integrados do sistema financeiro que permitem extrair os dados e analisá-los? Consegue pensar em tudo isso acontecendo na mão? Aquele pessoal da contabilidade virando noites e noites, fazendo contas de 10 casas decimais depois da vírgula naqueles blocos amarelos de anotação?

Hoje, aquela dúvida que surge sobre uma legislação específica… vai ali no Google e resolve a questão. Mas e se a informação estivesse naquele código de processo tributário, na prateleira da sala do diretor? Isso já foi uma realidade. E olha que nem faz tanto tempo assim. Tem uns 20, 25 anos?

Nós nos habituamos a esse conforto, a essa boa vida que cada vez mais temos, que são oferecidas o tempo todo. E passamos a exigir isso em tudo que fazemos.

A compra no e-commerce agora tem de ser em um clique. A geladeira que identifica itens em falta e já dispara um e-mail para avisar ou, ainda mais avançado, já realiza a compra no site de um grande varejista. O colchão ultramoderno já conectado com nossa cafeteira identifica que estamos levantando e emite um sinal para acionar a cafeteira para preparar o café, enquanto tomamos banho. Decorar o caminho para a casa do amigo, jamais. Liga o navegador GPS e ele diz como chegar até lá.

Não, não estamos falando dos Jetsons ou de um filme de ficção científica. Tudo isso já existe. Está em fase de testes e, no máximo, ainda não tem escala para garantir um preço acessível, mas deve ganhar o mercado muito em breve.

E há milhares de temas sobre essas mudanças que podem ser abordados. Estamos ficando mais preguiçosos e menos ativos? Queremos mesmo tudo nas mãos, sem a necessidade de muito empenho ou energia. Qual o custo social disso? Por outro lado, as facilidades proporcionadas pela tecnologia e internet de maneira geral também não liberam espaço para que exerçamos nossa produtividade de uma outra maneira, que a gente pense mais antes de agir e seja menos operacional e mais criativos?

Isso traz uma infinidade de desafios novos para a comunicação e o marketing das empresas. Essas mudanças provocadas pela tecnologia e pela internet são as melhores formas de materializar o conceito de que lidar com o público passa a ser uma questão de antropologia, sociologia, filosofia. Tecnologias da informação, comunicação e conexão tornam-se essencialmente meios. Elas são fundamentais, mas são apenas parte da entrega e da superação de expectativa dos clientes. Ainda mais se considerarmos os nativos digitais, que já nasceram, cresceram e caminham no mundo com tudo isso já fazendo parte de seu cotidiano, como algo natural da vida e, por essa razão, nem prestam atenção nisso.

Se algum profissional da área de comunicação e marketing ainda não percebeu isso, certamente vai sofrer. Quanto mais catracas criadas para o consumidor, quanto maior o número de obstáculos (na percepção do cliente) estiverem entre a marca e o relacionamento com seus públicos, quanto mais se exige dele, maior o esforço e menores as chances de conversão e resultados. Praticidade, simplicidade e facilidade passaram a ser comportamentos inerentes para a nova geração. E quem não direcionar suas iniciativas para esses três pilares, pode e deve perder mercado.

** Artigo originalmente publicado no GoAdMedia

Jornalismo X publicidade

Eu estava em casa outro dia conversando com a minha esposa – que também é jornalista – sobre as notícias ridículas que vimos em portais. Aquela história de Tostines (o público lê porque é o que tem – ruim – ou é ruim porque é o que o público lê). Então me veio na cabeça o “a publicidade que sustentou o jornalismo durante quase toda sua existência está matando o jornalismo”. Especialmente no online. Posso estar falando uma grande asneira porque não é uma pesquisa, uma avaliação aprofundada. E isso é uma discussão muito mais complexa do que um post de Facebook. Publicitários não me matem. Mas vocês discordam?

O que efetivamente paga as contas de um veículo? A publicidade, correto? Os demais meios de faturamento (assinatura, venda em banca, online, etc) não são suficientes para bancar a estrutura de um veículo. Quando falamos de online, principalmente, é uma apelação sem fim no conteúdo produzido. E cada vez mais apelação.

Há disputas e brigas sérias entre tipos de conteúdo, por exemplo, que vão para entretenimento e esporte. Ambos editores brigam pra colocar “Neymar leva o filho para a praia” porque precisam bater suas metas de audiência. E, sim, isso é um tipo de informação que vai trazer muitos cliques. Mas isso é esporte (por se tratar de um craque do futebol) ou é entretenimento porque traz uma informação de lazer do jogador?

E qual o motivo da apelação? Trazer audiência, cliques, número de páginas vistas. E o que é vendido para as marcas? A mesma audiência, cliques, número de vistas. Então, no fim, é sempre a busca sem freios (e sem pudores) pela audiência para, lá na frente, apresentar para as agências de publicidade e trazer anunciantes que pagam a conta. E assim temos o jornalismo que é feito hoje e tão criticado por quem faz parte disso tudo, mas também precisa pagar suas contas em casa.

Mimimi sobre o Facebook

Sim, é mimimi meu. Quem me conhece sabe que sou um heavy user de Twitter. Tenho lido vários artigos nos últimos dias defendendo o posicionamento do Facebook em limitar o alcance do conteúdo das marcas a 1%, 2% do público. Estimulados por histórias como a da Eat24 (http://blog.eat24hours.com/breakup-letter-to-facebook-from-eat24). São textos de pessoas que trabalham para a rede de Mark, de sites que analisam o mercado. Não sou um profundo conhecedor das estratégias desta rede social, mas há alguns pontos que não vi em discussão ainda. Entre as argumentações de defesa podemos encontrar:

a. O volume de dados cresceu, então, temos mais competição por espaço. Por isso o filtro é mais forte e você vê menos conteúdo. Aqui, dizem, é a fórmula usada para ordenar o conteúdo entregue a você (http://techcrunch.com/2014/04/03/the-filtered-feed-problem/);

b. O Facebook precisa se mostrar rentável aos investidores, especialmente depois do IPO;

c. O Facebook criou filtros mais fortes para o conteúdo exibido para privilegiar o usuário, para evitar que os anunciantes tomem a timeline do público;

Para a alternativa “a” tenho minhas dúvidas, mas faz sentido até certo ponto. O volume de conteúdo produzido e distribuído cresceu absurdamente nos últimos anos. E não estou falando só do conteúdo das empresas, mas dos próprios usuários. O que me incomoda é o Facebook dizer o que vai ser exibido para mim e não deixar que eu faça este filtro. Aliás, eu já fiz o teste de curtir todos os posts da página do meu cliente e nem sequer estes são exibidos para mim. Sem contar que sou administrador da página do cliente e seu conteúdo não aparece na minha linha do tempo. Mas eu aceitei os termos e eles mudam a regra do jogo a hora que bem entenderem.

Já no segundo caso, “b” a profissionalização traz isso. E deve ter muito investidor sedento, no cangote do Facebook para trazer resultados e cada vez mais encontrar formas de ganhar mais dinheiro. Certeza que vão explorar o máximo possível no menor espaço de tempo. Basta ver que até outro dia “a rede” era uma, depois virou outra. E ninguém pode garantir que o Facebook não vá para o limbo em poucos anos.

A “c” é, para mim, é o pior dos argumentos. Explico: ao passo em que dizem que não querem flodar a timeline dos usuários com uma porção de posts patrocinados. E qual é a ação? Reduzir o alcance para estimular as marcas a patrocinarem seus conteúdos. Estimulam a investir para atingirem uma base que já foi conquistada com muito investimento em publicidade. Posso estar errado, mas acho isso tão incoerente. Cada vez mais teremos conteúdo patrocinado na linha do tempo, considerando que, além de atingir a própria base de fãs, eu posso aumentar a segmentação para trazer novos usuários para minha página.

E aí criamos outro problema. Quando eu decido seguir uma marca, escolhi isso porque tenho uma relação com ela, já passei por uma experiência (positiva ou negativa), admiro esta marca/empresa. No caso da marca patrocinar e definir o target, eu não escolhi receber seu conteúdo. Eu recebo seu conteúdo porque ela está pagando para que ele chegue até mim. Se alguém encontrou um artigo falando sobre isso, por favor, compartilhe.

Talvez este seja o caminho do Facebook: http://www.wired.com/2014/04/this-is-the-end-of-facebook-as-we-know-it/?mbid=social_twitter

Pesquisa RP Digital – Abracom

Volto para transmitir uma informação importante. Já está no ar a nova edição da pesquisa do Grupo de Relações Públicas Digitais da Abracom (Associação Brasileira das Agências de Comunicação). Faz algum tempo que não produzimos este tipo de levantamento, mas com a evolução do mercado vale a pena retomar isso.

A proposta é fazer um raio X da relação entre as agências – sejam elas de RP, Publicidade ou Digitais – e as mídias sociais. Além disso, devemos fazer um comparativo com o último levantamento realizado, que você pode conferir aqui:

Ela está um pouco mais extensa nesta edição, mas não é difícil e não levará muito mais tempo para responder. Acesse este link e participe. Se puder  encaminhar para outras pessoas ou divulgar, vai ajudar bastante!

Título pornográfico

Quem trabalha com mídias sociais sabe. Tem sempre o terror que assombra esse povo de publicar algo pessoal no perfil ou página de um cliente. O cuidado tem de ser redobrado. Mas isso não é válido só para mídias sociais. Vejam só a pérola encontrada e compartilhada pelo amigo Nicolau Centola. Estava lá, no Maxpress. Tiraram do ar rapidamente, mas o print diz tudo. E o pior: prestem atenção no texto. Falava de teatro infantil.

Erro em título de conteúdo publicado no Maxpress.
Erro em título de conteúdo publicado no Maxpress. (clique na imagem para ampliar)

Jornalismo: aquele que existiu um dia

Fazia tempo que eu não via uma pataquada dessas. Não desse tamanho. Impressionante como a qualidade praticamente inexiste hoje no jornalismo. Ou os erros são grotescos ou há um baita interesse político. Sem mais, segue uma bela pérola:

Imagem

Como não sei quem originou a distribuição disso nas redes sociais, vou dar o crédito para o canal no qual me deparei com isso.

Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa

Redes sociais devem privilegiar essencialmente os usuários. Disso, imagino, poucas pessoas discordam. Sem usuários não há audiência. E sem audiência, bem, sabemos. Mas vamos considerar uma coisa: de onde vem a receita dessa “brincadeira”? Quem paga a conta? Parece bastante claro que nesse momento ainda são as grandes empresas que bancam tudo isso com seus investimentos em mídia. E esse é o ponto. 

Difícil equilibrar as duas coisas. Via de regra, desejo de usuário e de anunciante não costumam combinar. Os anunciantes querem aparecer. O internauta (já me sinto meio velho utilizando essa palavra) reclama demais dos modelos intrusivos e assim seguimos já há alguns anos na mídia digital. E com as redes sociais a coisa não é muito diferente. Mas, digamos, que o Facebook está forçando um pouco a mão.

No início de outubro foram anunciadas mudanças feitas pela rede que, na prática, diminuíram a relevância das páginas e o volume/forma em que os conteúdos aparecem no feed dos usuários. O pessoal do Mestre dos Sites explicou isso. A matéria de origem pode ser lida aqui

Vamos ser honestos. A política é modificada quase diariamente. Mas essa é uma alteração e tanto da regra do jogo. Especialmente para quem depende essencialmente da mídia de anunciantes, ou seja, empresas. O Techcrunch, portal especializado em tecnologia, divulgou uma informação que mostra a versão do Facebook para o fato.

A argumentação da rede social – e defesa de que não há perda de relevância – é a seguinte:

1. Quanto mais likes o usuário dá no seu conteúdo, mais ele aparece no feed do usuário – concluímos que o Like é tão importante quanto o compartilhamento, certo?

2. Se o post for ignorado pelos usuários, a tendência é que seu conteúdo seja menos mostrado, portanto, apareça menos na timeline dos usuários – para isso dependemos de likes, shares e comentários.

3. Exposição pelo formato do conteúdo – se os usuários costumam curtir ou compartilhar suas fotos no passado – é esse formato de conteúdo que tende a ser mais exibido no feed dos usuários.

4. Se um post foi encarado pelos usuários como negativo ou os usuários reclamaram demais dele, o conteúdo de sua página será menos visto pelos usuários. Isso começou a ser mais utilizado em setembro de 2012 com mais força.

A defesa parece parece bastante fraca e subjetiva. Os critérios de comentários negativos adotados pelo Facebook não são claros até hoje. O Insights – ferramenta analítica da rede social – sequer consegue trazer dados confiáveis. Não há motivos reais que expliquem os critérios utilizados. Da mesma forma, não fica exposto o modelo de tempo. Se os usuários curtiram muito a área de fotos, por exemplo. Mas fotos entraram no início desse ano, até então tínhamos o conteúdo praticamente baseado em texto, desde quando estão considerando o volume? E sobre os Likes e Shares, qual é a metodologia que garante o aumento da exposição? Qual é o limite? Isso também não ficou explícito em nenhum momento.

Aqui é possível encontrar um post em que o Facebook nega a criação desse novo modelo para vender mais anúncios, mas até aí, morreu Neves. Com o fracasso inicial no IPO, eles terão de se provar como rentáveis mais do que nunca e, principalmente, entregar resultados para os acionistas, que ficaram bem descontentes com a confiança (de lançar ações tão altas) e com o buraco (prejuízo que tiveram na abertura de capital).

Será que esses foram os motivos que levaram a GM a anunciar publicamente não acreditar na efetividade do Facebook em mídia? Ou seria a hegemonia dessa rede social o maior problema. Afinal, um concorrente de peso nunca fez mal a ninguém.

Vamos desenhar… nas redes sociais

Giz, lápis, mouse, celular nas mãos. Um pouco de criatividade, conhecimento de softwares de edição de imagens, um filtro bacana que dá um belo “tapa” na foto. Já repararam como o mundo está ficando gráfico e como a máxima “uma imagem vale mais que mil palavras” vem valendo mais do que nunca?

Basta darmos uma olhada nas redes sociais. Primeiro foram os infográficos. Foi uma enxurrada de desenhos para todos os lados. Pra tudo, sobre tudo. O importante era puxar a lousa e rabiscar para que o público pudesse compreender.

Em seguida veio o Instagram. A ferramenta – até então exclusiva para iPhones e que há pouco ganhou também o Android – virou febre. Os filtros, por vezes, transformam imagens que poderiam ser comuns em pequenas obras de arte que caberiam fácil em um quadro.

O sucesso dessa rede foi tamanho que levou Mark Zuckerberg e os gestores do Facebook – hoje indiscutivelmente a maior rede social do mundo – a olharem com carinho para o Instagram até a aquisição da plataforma no início de abril desse ano pela bagatela de US$ 1 bilhão.

O Facebook já demonstrava o valor e importância que a imagem tem para sua estratégia. Sem dúvida alguma o novo modelo definido para a linha do tempo dos usuários privilegia totalmente a publicação de conteúdos em modelo de foto. A imagem de capa também reforça esse conceito e estimulou o público até mesmo a brincar com o formato.

Antes mesmo disso, entretanto, os próprios usuários e marcas se encarregaram de usar e abusar de joguetes com fotos e montagens em busca do tal engajamento. Exemplos não faltam.

Por fim, o crescimento repentino do Pinterest, que foi conquistando terreno principalmente em arte, decoração, design. E, por mais que sua evolução esteja um pouco mais estabilizada, há muita gente de olho nessa tecnologia.

É. O mundo da leitura está cada vez mais distante. Lembra aquela célebre cena do filme “Cidade de Deus”, quando o Zé Pequeno pede para procurarem o nome dele no jornal e o menino responde: “Só sei ler as figuras”.