A queda do diploma


Fiquei um tempão pensando se publicaria algo sobre a votação do supremo Tribunal Federal (STF) pela queda da obrigatoriedade do diploma para o exercício do jornalismo. Especialmente depois de ter lido milhares de posts, matérias, pontos de vistas, etc, na internet. E vou dizer: quanta besteira. Tanto de quem defende a manutenção da exigência – com argumentos rasos – como daqueles que vibraram com a queda da “regulamentação”, também com colocações e sem muita fundamentação.

Não sou dono da verdade, mas ninguém é. Certo? Radicalismos à parte, confesso que ainda não consegui ter uma opinião concreta em relação ao tema. Desde que essa discussão tomou mais forma eu tento digerir as idéias, mas só consigo preparar maçaroca. Ainda estou confuso e só consigo analisar, também de maneira simplória, alguns pontos.

1) A banalização da categoria já acontece faz muitos anos. Não sejamos hipócritas, a maior parte dos jornalistas não sabe o que é um regime CLT há anos, e anda se matando por frilas mal pagos. Então, esse discurso de que “ai, vou perder o emprego para um cozinheiro, uma diarista, um mecânico” não cola mais. E não digo isso por ser convencido ou por menosprezar as duas profissões. Ao contrário. Peçam para que eu faça uma boa faxina ou que eu cozinhe um belo prato e verão a desgraça que vai ser. É simples. Eu não vejo relação alguma entre uma coisa e outra. Minha habilidade e minha capacitação são diferentes das destes profissionais. E, também, nada impede que eles criem seus blogs e passem a fornecer boas informações. Certamente vão produzir conteúdo que tenha ligação com suas áreas com maior qualidade do que eu faria;

2) Não creio também que as empresas vão contratar quem não tem capacidade e qualidade, quem não teve mínima formação. Aliás, as exigências de qualificação para a entrada no mercado de trabalho só aumentam com o passar dos anos. Nada contra também, mas em pouco tempo teremos empresas exigindo motoboys que falem inglês, espanhol e mandarim;

3) Tomadas as devidas proporções, a falta de critérios na contratação também já acontece em vários casos. Quantos estagiários conhecemos que são tratados e têm de desenvolver suas tarefas como profissionais experientes, em substituição (inclusive no salário) aos profissionais já consolidados.

4) Boa parte dos não-jornalistas já são muito mais bem pagos do que os próprios jornalistas (colunistas, apresentadores, etc). Basta ligar a TV e ler colunas de “diversão” para verificar isso;

5) A tecnologia já impôs desafios suficientes para a comunicação em todas as suas esferas. É a partir daí que o caminho a ser analisado, estudado, refeito. O modelo de negócios da comunicação se perdeu e até agora não encontrou um novo rumo e, sinceramente, vai penar ainda muito mais para achar. Precisamos conquistar um novo jornalismo, diferente do que se faz hoje. E, na boa, isso também não é uma discussão que começa com a queda da exigência do diploma.

Os sindicatos e federações? Ah, agora saem gritando aos quatro cantos pelo absurdo feito pelo STF. Mas, desculpem-me, qual foi mesmo o papel exercido por essas entidades nos últimos anos? Qual a relevância e conquista desses “representantes” na última década? Se os sindicatos dos bancários e dos metalúrgicos estão enfraquecidos há algum tempo, que dirá o dos jornalistas. Aliás, qual será a função delas daqui em diante?

Enfim, é isso. Tirem suas conclusões. Eu ainda estou pensando nas minhas!

6 comentários em “A queda do diploma

  1. Caro Eduardo, compartilho dessa mesma situação. Ainda não tenho uma opinião 100% formada sobre o assunto, mas não consigo deixar de perceber certos ganchos, que merecem ser observados, nesse fosso, que parece ser a queda do diploma.

    Primeiro, acho que a questão coloca, ou pelo menos deveria, a necessidade de se refletir sobre a quantas anda a prática de jornalismo no nosso país. Essa travessia academia-mercado vem mesmo sendo bem feita? Os bancos da faculdade garantem a formação de bons jornalistas?

    Segundo, concordo com você, quando diz que as empresas de comunicação não vão contratar qualquer um. Acho que há certo exagero de alguns quando dizem isso, sem falar um quê de corporativismo barato.

    Terceiro, com diploma ou sem diploma, já existem muitos esquemas de contratação desconcertantes por aí, como você bem lembrou. E não somente de estagiários alçados à condição de profissionais mas também de toda sorte de apadrinhados, sem o mínimo expertise, que pipocam por aí. O mundo da tv nos fornece, inclusive, emblemáticos exemplos.

    Vamos ver o que é que rende

  2. Minha conclusão é meu medo que o meu diploma de RP perca a obrigatoriedade antes mesmo que eu consiga conquista-lo. Fiz um post sobre a queda do diploma hoje n’Ocappuccino.

    Abraços,
    Mateus d’Ocappuccino

  3. Oi Edu!
    A faculdade tem lá suas vantagens – alguma preparação é sempre boa em se tratando de matérias práticas. Dispenso boa parte das teóricas. Mas acredito que as contratações ficarão mais rígidas e seletivas a partir de agora. E a teoria do cozinheiro não é, de forma alguma, ofensiva: não vou me tornar um bom jornalista somente por ter feito a faculdade. Tem várias outras coisas envolvidas, e acho que serão melhor consideradas a partir de agora.

    Abs, Juliana

  4. Caríssimo Eduardo, assino embaixo das suas conclusões. E mais, a queda do diploma veio para ‘regularizar’ uma situação cotidiana do mercado.
    Façamos um analogia com outras profissões, por exemplo, administrador de empresa. As companhias contratam pelo diploma ou porque precisam de alguém que entenda de administração, por exemplo, um analista contábil ou economista? São profissões afins e que se somam.
    É fato o exagero sobre a contratação de ‘qualquer um’. A escolha agora será feita em cima de competências que venham agregar um futuro novo no campo das comunicações.

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